Não é o 'brillant bosseur' (inteligência adaptativa, quantitativamente elevada, porém comum.). O surdoué ademais tem uma inteligência qualitativamente diferente. Quem entende verdadeiramente, intrinsecamente o que se passa é outro surdoué.
'Já nasce elevado, delicado.' (outro autor).
"A ingerência afetiva está sempre presente no sobredotado, aí compreendido o ato cognitivo."
Inacessível à compreensão por normas clássicas.
AS ONDAS DE EMOÇÃO
'Já nasce elevado, delicado.' (outro autor).
"A ingerência afetiva está sempre presente no sobredotado, aí compreendido o ato cognitivo."
Inacessível à compreensão por normas clássicas.
AS ONDAS DE EMOÇÃO
É
preciso compreender que o sobredotado se contém muito. Ele tenta colocar à distância todas as emoções que o
assaltam continuadamente. Muito rápido, ele é tocado. Uma observação
anódina, uma palavra rapidamente empregada, uma frase negligentemente
formulada, vão desencadear ondas de emoção que o sobredotado, num primeiro
momento, tenta canalizar, intelectualizar, minimizar. Ele tenta fazer baixar a
carga apesar das lágrimas que sobem, a cólera que ressoa. Mas, se a situação de
pressão emocional se prolonga, então todos os diques quebram e a intensidade
emocional carrega tudo. O forte da reação não é mais de toda em ligação com a situação inicial, por vezes banal. A agressividade contra si ou contra os outros é
rara. Este extremo tem por objetivo evacuar o excedente. É uma
catarse.
A grande susceptibilidade, encontrada em todos os perfis de sobredotados, é uma das consequências do processo neuropsicológico de sensibilidade emocional exacerbada.
A SINESTESIA, UMA
SURPREENDENTE COMPETÊNCIA SENSORIAL
A
sinestesia é definida como uma associação involuntária de vários sentidos, o
que que dizer que a estimulação de um sentido é percebida simultaneamente por
um outro sentido, sem que este tenha sido estimulado especificamente. É um
cruzamento de sentidos com superposição perceptiva.
Esta
competência intermodal (a participação simultânea de muitos sentidos) contribui
para a proliferação de associação de idéias, à justaposição de sensações e de
emoções, à amplificação e à exacerbação dos sentidos. É raro que os sobredotados
falem disso pois, como para muitos dos aspectos de sua personalidade, eles
ignoram que os outros não vivem as mesmas experiências.
A
sinestesia é constante e involuntária. Não pode decidir de interrompê-la.
Compreende-se
quanto a sinestesia contribui para a receptividade sensorial fora do comum dos
sobredotados e para a intensidade da percepção emocional.
QUANDO ISSO TRANSBORDA
VERDADEIRAMENTE:
Conter,
se reter... explodir. As emoções
transbordam. A crise é tanto mais
impressionante que o ponto de partida pode parecer insignificante.
Uma
entrada emocional tocada que não pode mais ser elaborada nem canalizada. É a
hiperreatibilidade emocional, que se explica por uma entrada de reatibilidade
significativamente mais baixa nos sobredotados, a capacidade de regulação
emocional estando menos elevada.
Em
claro: um sobredotado reage bem mais forte às menores coisas. Sobre um plano
neuropsicológico tudo se joga ao nível do córtex prefrontal em face da invasão
emocional.
DA IMAGEM À PALAVRA:
QUANDO A ARBORESCÊNCIA
SE FUNDE E SE EMBARAÇA
Este
turbilhão de pensamento e de emoções tornam difícil a passagem para a
linguagem. Como traduzir este ruído interior, esta efervescência de
sentimentos, esta sensação agitada do mundo, sem trair o que se pensa,
encontrando a palavra precisa, no justo momento. E estando certo que o outro
compreenderá precisamente o que se tem a dizer. Falar, é fazer passar esta
abundância de pensamentos num grande gargalo de sufoco: as palavras devem se
compor umas após as outras, numa ordem constante e codificada o que permitirá
comunicar corretamente o que se tem a dizer.
“Pode-se ver o mundo
linear como uma decisão arbitrária por relação a todas as possibilidades que se
acham ao fundo. Quando eu estou sob um modo em arborescência, é mais difícil
com a linguagem pois eu posso me reencontrar com simultaneamente quatro
palavras que querem dizer a mesma coisa, ou quase, e que se apresentam no mesmo
momento.” Raphaël, 17 anos.
A
impossibilidade de dizer sem estar totalmente conectado ao seu pensamento, aqui
e agora do que se deseja exprimir.
“Eu vejo as palavras do
que eu quero dizer quando eu estou dentro de meu pensamento. É preciso que eu
esteja conectado com minhas emoções para poder dizer as coisas. Se me pedem num
segundo momento minha idéia sobre qualquer coisa, eu não sei mais, pois eu não
estou mais conectado com a alquimia de meu pensamento.”
A
intensidade do pensamento com sua carga emocional não se vê nem pode se
exprimir senão no momento onde ela se desdobra. Sua rapidez de ativação e sua
fusão espetacular tornam difícil a integração estável dos dados. Eles serão
geralmente pedidos para uma utilização ulterior. Remobilizar-se requer uma
muito forte energia. O pensamento escapa e se escapa rápido. O muito elimina o pensamento.
~
(...) o que fazer com o mosaico de imagens
fragmentadas e contraditórias?
~
Para
o adolescente sobredotado, a inibição é uma estratégia de integração. Sabotar
seu próprio funcionamento, é tentar ser idêntico aos outros mas também parar de
sofrer. Nos anos 70, (...) falava de anorexia intelectual:
sobretudo não mais se alimentar de pensamentos e recusar toda forma de
inteligência. Retorna-se aqui noção de luto de uma parte de si mesmo: minha
inteligência não serve para nada, (...). Única saída, sabotá-la.
Trata-se
realmente de um ataque de si, de um retorno agressivo contra si mesmo.
(...) A inibição intelectual permite igualmente ao sobredotado recobrir-se de uma máscara de pseudo-debilidade que o ajuda a passar despercebido.
~
Inverta
o movimento. Você repartirá a viva velocidade no sentido inverso. E você
empregará uma energia insuspeita de você com a mesma força que aquela que você
imobilizou.
» Para um sobredotado, ter sucesso, é
possível?
Para um sobredotado,
é vital, mas ele pensa que é impossível. Não como ele gostaria. Não o que ele
gostaria. Jamais à altura do ideal que ele tem da vida e de si mesmo. Para ele,
obter êxito, é fazer avançar a humanidade, fazer avançar o mundo. Não se trata
de um sucesso profissional clássico. Não é perfeitamente isto para um
sobredotado, mesmo se ele participa disto. Ele vive com uma visão mais
transcendental do sucesso. Ele desejaria tanto o alcançar. Mas quando se é
capaz de perceber com uma tal lucidez os limites dos outros, como não,
primeiro, perceber seus próprios limites? Então o sobredotado está raramente
satisfeito. A imagem de sucesso que ele pode por vezes dar não está jamais
sincronizado com sua visão do mundo. Para vocês, esta pessoa teve sucesso, mas,
para ele, o caminho é ainda longo. Ele o alcançará um dia? É para ele um medo
visceral: não chegar lá. Ele se sente tão impotente, face
à tarefa imensa que ele adoraria assumir.
QUANDO AS PALAVRAS SE PERDEM
NA ARBORESCÊNCIA
Querer
se exprimir enquanto que as palavras passam tão rápido na cabeça pode criar
sérios problemas de comunicação e verdadeiras dificuldades de relacionamento. Quando
não se chega a exprimir precisamente e claramente o que se deseja dizer, que se
embaralha e que tudo torna-se confuso, corre-se o risco de não ser compreendido
ou compreendido de lado, o que é frequentemente pior. As palavras vem tão
dificilmente para traduzir o que se sente.
Então,
geralmente, o sobredotado se cala. Não falar pois não se sabe como dizer. E às
vezes, quando se fala, ferir bem involuntariamente. Não era a boa palavra, não
aquela que seria necessária...
Perder-se
no seu pensamento conduz frequentemente o sobredotado a passar por desvios para
cercar uma idéia. É por vezes a única solução para tentar clarear suas palavras.
E se ele se
coloca a ser verdadeiramente como ele é, a falar, a funcionar em conformidade
com o que ele vive no interior de si mesmo. Mas ele retém, a toda força e a todo preço. Porque ele quer
superar estes anos difíceis, porque ele vê mais longe.
Um
cérebro num estado permanente de hiperatividade, com conexões a grande
velocidade e que se desdobram em todas as áreas do cérebro simultaneamente. Um
borbulhamento cerebral permanente que amplia consideravelmente as capacidades
do pensamento, mas que torna-se rapidamente muito difícil a canalizar.
“Eu tenho tão plena a
cabeça que eu tento falar muito rápido para tudo dizer, mas eu me atrapalho, é
a catástrofe.”
O DESAFIO: SELECIONAR A
INFORMAÇÃO PERTINENTE
Nessa
ativação cerebral permanente e acelerada, como alcançar a reparar a informação
principal? Como distinguir o dado pertinente para resolver o problema ali,
naquele momento? Tudo vai muito rápido e tudo aparece no cérebro ao mesmo
tempo. Quando se tenta agarrar uma idéia, ela é já muito longe e outras
centenas surgiram. Como, enfim, se liberar da carga emocional que se ativa ao
mesmo ritmo que os neurônios e que provoca o pensamento nas zonas ainda mais
longínquas?
• O déficit de inibição latente
A
inibição latente é o processo cognitivo que permite hierarquizar e triar os
estímulos e as informações que nosso cérebro deve tratar.
Por
exemplo, se nos entramos num lugar, seu odor vai nos marcar, depois parece
desaparecer. O cérebro registrou a informação, a classificou na categoria “não
útil” e a colocou de lado! A mesma coisa se passa para os barulhos: o tic-tac
de um relógio pode vos irritar, depois parece silenciar, se fundir na decoração,
é a inibição latente que trabalhou e classificou esta informação como
secundária.
É a
inibição latente que faz com que nosso cérebro opere uma seleção em todas as
informações recebidas, sejam elas visuais, auditivas ou táteis, e nos tornam
atentos ao que é julgado útil e pertinente. A inibição latente suprime os
ruídos, imagens e sensações ‘de fundo’. Um tipo de ‘trio automático’ é efetuado
a fim de que nos não sejamos submersos por todas as informações e que nós
possamos nos concentrar sobre o essencial. Trata-se de um processo neurológico
fundamental que se aciona sem que se dê conta nossa vontade consciente.
Este
‘trio automático’ não se aciona no cérebro do sobredotado que se reencontra em
face de uma multidão de informações que se deve tratar ‘manualmente’. Fala-se
de déficit de inibição latente. O que
supõe um esforço singular para se ‘colocar’ dentro de sua cabeça e determinar
quais são os dados a privilegiar. Compreende-se bem a dificuldade que encontra
o sobredotado quando ele deve organizar e estruturar seu pensamento. E quanto
resta a capturar com todas as emoções e sensações associadas.
Sendo
o contexto carregado de informações, em particular emocionais, e o sobredotado
não chega a canalizar a sua atenção. Ele se coloca em modo <vigia> e não
permite entrar em seu cérebro a não ser o mínimo de informações vitais...
Nestes momentos, tem-se a impressão que ele não escuta, que ele não está lá.
Por vezes prejudicial para ele e muito provocante para o meio. Ele está em modo
econômico! Então, para se fazer entender, será preciso repetir um grande número
de vezes!
O
sobredotado funciona em tudo ou em
nada. Mas , para ele, o tudo, é frequentemente demais.
• Do muito pensar à impulsividade: uma
particularidade de funcionamento na origem de conflitos inúteis.
Não é
verdadeiramente escutar, não é verdadeiramente refletir como uma economia de
energia cerebral. Um sobredotado pode verdadeiramente dar a impressão de ser
idiota a tal ponto, ele pode às vezes reagir, tomar decisões, de maneira
irrefletida. O mais freqüente em face de frágeis apostas: em modo vigia, ele
responde, toma uma decisão superficial ou pior, de lado. Donde vêm numerosos
erros e conflitos inextricáveis. Muito difícil efetivamente de compreender e de
aceitar que este ser inteligente e sensível teria podido agir, intervir, de
forma tão inadaptada. Não se pode chegar a o crer. Frequentemente o sobredotado
procurará vos persuadir que ele não o fez de propósito, que ele não pensou nas
conseqüências, que ele não havia bem compreendido e, tão surpreendente e
desconcertante que isto possa parecer, é verdade! O que o pode conduzir a
impasses de comunicação: o outro não pode entender uma inverossimilhança igual
e insiste. Então o sobredotado, no fim de argumentos justificáveis, deixa o <combate> . Ele
se fecha, não diz mais nada, foge. Ele não sabe mais o que é preciso dizer e
prefere se subtrair à confrontação.
Um desfuncionamento ativado bem involuntariamente pelo sobredotado, ele
mesmo infeliz de tanta incompreensão recíproca. Vê-se
bem como este funcionamento pode ser compreendido como de insolência ou de
impertinência. E isto, qualquer que seja a idade, desde pequeno!
PENSAMENTO LINEAR E
PENSAMENTO EM ARBORESCÊNCIA
(...)
O
tratamento simultâneo funciona de toda outra maneira. A partir de um estímulo,
de uma idéia, de uma instrução, toda uma rede associativa de pensamentos se
desdobra a grande velocidade. Cada idéia gera uma outra sem que um vínculo
lógico sustente essa associação. De mais, vários eixos de pensamentos se desenvolvem
simultaneamente, criando uma real arborescência do pensamento. Imagens,
sensações, emoções vão alimentar esta arborescência que se torna mais e mais
complexa e cujos múltiplos <galhos> se abrem ao infinito. Rapidamente, a densidade dos
pensamentos é elevada e se torna bem improvável de esperar os organizar e
estruturar. Favorável à emergência das idéias novas e criativas, surgimento de
um pensamento rico, forte em imagens e em emoções, o pensamento em rede nem sempre é aquele da linguagem que explica claramente nem do raciocínio que argumenta
logicamente (v. conexão com as emoções no momento).
A RESPOSTA INTUITIVA:
NÃO PODER ACEDER AOS
PROCEDIMENTOS
O que
é mais frustante, é que o sobredotado é de uma imensa boa fé. A ele não mais
sabe como ele sabe nem porquê. Isto funciona em despeito de sua entrada de
consciência. Mesmo com uma boa vontade arisca, ele não conseguiria.
“Quando eu tenho um
problema, eu vejo o começo, eu vejo o fim, mas no meio eu não sei o que há.”
É como
o que explica Adrien. Claramente. Todos os sobredotados tem esta dificuldade.
Dificuldade paradoxal que reduz por sua estrutura mesma o funcionamento de toda
sua riqueza intrínseca.
Sobre
um plano neuropsicológico, esta singularidade se explica pela ativação de
conexões neuronais que emprestam vias ultrarápidas e por mesmas imperceptíveis
à consciência. A intuição fulgurante surge da colocação em ação dessas redes de
neurônios carregadas de informações. As imagens cerebrais mostram esta ativação
cerebral soterrada que se alimenta de conhecimentos anteriores e da capacidade
de criar conexões inéditas. A inteligência intuitiva é a resultante absoluta
com suas armadilhas e seus imensos recursos.
NÃO COMPREENDER O
SENTIDO DAS PALAVRAS:
QUANDO NÃO SE DECODIFICA
OS IMPLÍCITOS
Esta
dificuldade a decodificar os implícitos ordinários dá por vezes a sensação ao
sobredotado, pequeno ou grande, que ele não compreende nada do mundo. Isto
reforça seu sentimento de estranheza ou de diferença. Já que todo mudo parece
funcionar da mesma maneira e que eu não chego a isto, então sou eu que não sou
normal! Ele sofre duplamente: da percepção dessa diferença que o isola dos
outros e do ataque da imagem de si que disso resulta. Estes mecanismos podem estar à origem de um recuo de si e de um
desinvestimento progressivo do mundo. De uma perda de interesse.
Para
um sobredotado, a precisão absoluta é fundamental, ele compreende as coisas no
sentido literal. Para que ele alcance o que você quer dizer, é preciso explicar
a ele o contexto. Então ele dará às palavras o mesmo sentido que você. E a
partilha tornar-se-á possível. Senão ele não compreende. Ou, mais exatamente,
ele compreende de outra forma. Aqui está a fonte de malentendidos penosos e de
conflitos inextricáveis, que se reencontra em todos estágios da vida e em todos os domínios: na
escola, a criança é <fora do tema> ou
não responde a uma questão que parece entretanto simples, com seus parentes, a
criança faz exatamente o contrário do que se a pede, .
Do lado afetivo, o cérebro do sobredotado
mostra também singularidades
As
estruturas do funcionamento afetivo do sobredotado se encontram também
aninhadas no cérebro e nos processos neurofisiológicos da percepção sensorial.
Nós veremos que estas singularidades esclarecem para uma grande parte as
características habitualmente encontradas na organização da personalidade do
sobredotado e na sua relação com o mundo, sempre singular.
UM SOBREDOTADO PENSA
PRIMEIRO COM SEU CORAÇÃO
Aqui
está provavelmente a mais presente das especificidades do sistema emocional dos
sobredotados, uma delas que é a mais característica de seu funcionamento: a
ingerência emocional. Apesar da preeminência majoritariamente acordada das
formas de inteligência no perfil do sobredotado, parece na realidade que é
antes do lado do funcionamento emocional e afetivo que se revela sua mais
profunda personalidade, muito singular. De uma certa maneira, poder-se-ia
dizer, com pouco de riscos de se enganar, que um sobredotado pensa primeiro com
seu coração, bem antes de pensar com sua cabeça. E que é certo que podem
emergir incompreensões notórias.
A
hiperreceptividade emocional é central no sobredotado. Verdadeira esponja, ele
absorve continuamente a mínima partícula emocional em suspensão em torno de si.
De uma sensibilidade exarcebada das emoções ambientes, o sobredotado sente
igualmente as emoções dos outros. É o que chamamos de empatia. A empatia do
sobredotado é constante e perturba suas relações humanas. Ele não chega a estar
unicamente com alguém numa atitude simplesmente receptiva ao outro. Ele é
sempre obrigado a viver, ao mesmo tempo que o outro, tudo o que este sente e
vive emocionalmente. Esta permeabilidade deixa pouco repouso e conduz a
ajustamentos constantes. E depois, quando se se sente tão forte, como ser
indiferente? Como não se implicar, ao fundo, em todas as situações? Como se
isolar desse ruído emocional captada com força por todos os sentidos?
A HIPERESTESIA OU A
PERCEPÇÃO INTENSIVA
DE TODOS OS SENTIDOS
A
hiperestesia designa a capacidade sensorial exacerbada. Dos cinco sentidos. Um
sobredotado tem competências visuais, auditivas, gustativas, olfativas, mas
também sinestésicas (o tocar) que se revelam muito superiores à média da
população.
• A vista sagaz, perspicaz
As
evidências são muito nítidas, os contrastes mais marcados. Que ele seja
ofuscado pela luz ou escondido na sombra, nada escapa à sagacidade visual do
sobredotado. Mínimos, imperceptíveis, secundários, todos os detalhes de uma
cena são encontrados, percebidos, analisados. Os que os outros nem percebem
sequer a presença. Muito cedo, o olhar é inquisidor. Algumas vezes mesmo
perturbador pela sua intensidade. As experiências praticadas com os
sobredotados mostram que ele são capazes de extrair de uma foto ou imagem
carregada de múltiplos detalhes um número significativamente mais elevado de
elementos e num lapso de tempo muito mais curto.
• O olfato, sempre ativo
O olfato
tornou-se um sentido secundário nas sociedades modernas. Não se o utiliza jamais para analisar ou compreender
o ambiente. No curso da evolução, o ouvido e a vista tornaram-se nossos
sentidos privilegiados.
O
sobredotado, ele, conservou esta capacidade surpreendente de se servir dos
odores para retirar as informações sobre as pessoas e as coisas que o cercam.
Ele fala disso raramente pois ele ignora que os outros não dispõem deste
sentido e, quando ele o compreende,. Então ele se cala. Entretanto, com seu olfato, o
sobredotado alarga ainda mais a sua receptividade sensorial e aumenta
significativamente o número de dados sensíveis que serão tratados e integrados
pelo cérebro. Com o seu olfato, ele compreende certas coisas que são invisíveis
e imperceptíveis pelos outros, ele tira conclusões ou memoriza os elementos que
enriquecem mais ainda a complexidade de seu pensamento.
• O gosto e o tocar
Eles
têm sido menos estudados, mas a observação clínica mostra um número
surpreendente de “gastrônomos” nos sobredotados e a relação muito particular
que eles mantêm com o tocar. Sensíveis à textura da pele dos outros, atraídos
pelas matérias, eles tem geralmente necessidade de tocar para melhor
compreender. Como se, por este gesto, eles se assegurariam de ter bem integrado
todos os componentes de um objeto.
A
capacidade exarcebada dos cinco sentidos explica a extrema reação emocional e a
importância do afetivo.
Todos
os sentidos alertas de maneira constante alargam a receptividade ao mundo.
A
exarcebação dos sentidos gera uma sensibilidade emocional elevada: tudo é
percebido e a todo tempo.
A
hiperestimulação, isto é, a rapidez do desencadeamento de uma resposta
emocional do organismo, está diretamente correlacionado à hiperestesia.
*
**
Paradoxo
central que fragiliza o sobredotado sobre seu percurso: a relação íntima que existe
entre a extrema inteligência e a vulnerabilidade psíquica.
*
*
Sentir
finamente e com todos os sentidos as emoções permite também melhor se
compreender. Todas as emoções estão associadas a manifestações fisiológicas. As
emoções emitem sinais anunciadores os quais se saberá ou não perceber e
decodificar. Dotado desse sexto sentido, o sobredotado sabe, antes que o evento
se desencadeie, a carga emocional que ele contém.
*
A imagem de um desinteresse para os outros
O
sobredotado que constrói uma carapaça impenetrável para não mais receber a
carga emocional pode aparecer aos olhos dos outros como uma pessoa distante,
fria, sem sentimento pelo outro. Orgulhoso até. Desligado do
mundo. Prisioneiro de si mesmo, o sobredotado é duplamente maltratado: pela
energia que precisa constantemente mobilizar para ter à distância a experiência
emocional do outro, pela imagem que ele dá tão longe do que ele é. Você imagina
bem que este sistema de defesa é falho e que o sobredotado continua a suportar
os sopros emocionais, que ele continua pois a sofrê-los. Vê-se também que a angústia
é amplificada. Que espiral!
Esconder um diagnóstico é impedir a sobredotada de se conhecer tal como ela é de verdade. É fazê-la crescer amputando uma parte de si mesma. Ela sofrerá, sem ter as chaves que lhe explicarão as razões.
~Sua aflição singular não pode escapar aos clínicos de audição exercida e experta.
~
“Obrigado. Eu não tinha idéia a que ponto isto faz estranho se sentir normal. Que paradoxo! Eu, que durante toda minha infância senti-me sempre ser diferente, o dia quando seu livro disse-me “você é diferente”, eu me senti normal. É estúpido mas apaziguador. [...] Que choque! Eu tive lágrimas nos olhos durante toda a minha leitura. [...] Você me contou a história de minha vida, de meu raciocínio. Que alívio. Eu nunca passei nos testes de QI, mas eu sempre duvidei de alguma coisa. Houve sempre este truque que, quando você está em face de outras pessoas, você diz: espere, ali, há um problema, eles não reagem como é preciso.
~
~Sua aflição singular não pode escapar aos clínicos de audição exercida e experta.
~
“Obrigado. Eu não tinha idéia a que ponto isto faz estranho se sentir normal. Que paradoxo! Eu, que durante toda minha infância senti-me sempre ser diferente, o dia quando seu livro disse-me “você é diferente”, eu me senti normal. É estúpido mas apaziguador. [...] Que choque! Eu tive lágrimas nos olhos durante toda a minha leitura. [...] Você me contou a história de minha vida, de meu raciocínio. Que alívio. Eu nunca passei nos testes de QI, mas eu sempre duvidei de alguma coisa. Houve sempre este truque que, quando você está em face de outras pessoas, você diz: espere, ali, há um problema, eles não reagem como é preciso.
~
Quando tudo vai bem, a personalidade do sobredotado é rica de todos os trunfos.
É uma dimensão que não é preciso jamais ocultar pois, se muito tem de idéias,
pouco chega a impô-las e a assumi-las. Que se o diga!
J.S.-Facchin
» Todo os
sentidos ao serviço do prazer de viver
A hiperestesia redobra as possibilidades
A
colocação em ação de todos os sentidos simultaneamente e sua notável capacidade
de discriminação, dão ao sobredotado uma presença no mundo fora do comum. A hiperestesia amplifica todas as percepções.
Ela permite criar do bonito lá onde outros não verão senão o banal. Ela ilumina
o mundo pela densidade emocional que todos os sentidos proporcionam. A
hiperestesia pode ser utilizada para capturar o ambiente e o magnificar.
Utilizar todos os sentidos para abraçar o mundo.
Tudo
sentir pode ser um imenso prazer e a fonte de momentos mágicos de vida.
Aproveitá-los para se reabastecer desde que você o desejar. Esta força está em você. Utilize-a
plenamente para sentir-se vivo.
A poética e a estética
O
senso do belo, a sensibilidade ao real, ao que toca, é a essência mesmo da
estética. O que não é uma questão de gosto, mas de sensibilidade. A estética
permite se harmonizar ao mundo naquilo que ele tem de mais íntimo. A estética é
uma disciplina filosófica que se refere à percepção da forma (no sentido da Gestalt), quer dizer da globalidade do
que é percebido. O senso estético é esta capacidade a perceber pelo
intermediário de todos os sentidos e com uma sensibilidade perspicaz, a
quintaessência das coisas. A estética percebe por sua vez o escondido e o
visível, o interior e o exterior e abraça o mundo com uma profundidade
chocante. A estética é uma outra maneira, sensível e autêntica, de compreender
a vida.
A
poética não é somente a arte de compor os poemas. O caráter poético fala da
capacidade de se esquecer a si mesmo para exaltar a beleza da natureza ou do
outro. A poética cria um laço íntimo com o ambiente. A poética, é o poder se se
imergir inteiramente no ambiente para dele absorver a essência ou a identidade.
O poético, é uma comunhão com o mundo pela capilaridade sensitiva.
Poética
e estética estão estreitamente ligadas. Poética e estética emanam da
hipersensibilidade e exaltam as possibilidades. Sua
plena expressão torna vivo e presente o mundo que nos rodeia e nos permite de
ressoar com eles em harmonia perfeita. É uma porta formidável através da beleza
da vida.
tradução: Viviane Anetti