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Ontem foi aniversário do educador Paulo Freire. Ele faria 102 anos. Alguns se referem ao “método Paulo Freire” como se fosse uma técnica. Mas a palavra “técnica” não se aplica adequadamente à práxis pedagógica de Paulo Freire.
A prática de Paulo Freire é uma poética da autonomia , um processo de singularização que nunca pode ser reduzido a uma fórmula ou padrão ( fórmulas e padrões são instrumentos de um poder que desautonomiza).
A poética educacional de Paulo Freire dialoga também com Espinosa. Ambos convergem no seguinte ponto: o educador que deseja ensinar deve compreender, antes de tudo, que o aprender vem antes do ensinar.
O autêntico educador deve conhecer seus educandos não como seres a serem adestrados para o mercado, e sim como agentes que dão sentido ao mundo em que vivem. Mundo esse a ser transformado pela educação emancipadora .
Mesmo que não saibam ler ou escrever, homens e mulheres dão sentido ao mundo em que vivem por intermédio de palavras-ferramentas, as quais Paulo Freire chama de “palavras-geradoras”.
No caso da alfabetização de adultos, as palavras-geradoras atestam que, mesmo sem saber ler livros , aqueles que as produziram já sabiam ler o mundo.
“Geradora”, “generosidade” e “gente” são palavras com a mesma raiz semântica. Por isso, palavra-geradora é palavra generosa que nos potencializa como gente, tanto ao que ensina quanto ao que aprende.
A poética freireana auxilia o educando a partejar as outras palavras que vivem na imanência da palavra geradora. Com isso, é a própria mente do educando que também aprende com a palavra que sua fala já dizia, palavra essa que , desdobrada, também revela a riqueza de seu mundo. Não riqueza medida em dinheiro, mas riqueza que se expressa no conhecimento que autonomiza.
As palavras-geradoras, autênticas palavras-potências, desenvolvem e explicam o sentido que nelas está implicado. Pois elas não são apenas palavras, elas são também ideias, percepções, cantares, repentes, sons ancestrais...
O contrário da educação potencializadora é o “ensino bancário”, no qual o conhecimento é “depositado” pelo professor no aluno como se este fosse uma conta que precisa dar lucro. É um modelo quantitativista, tecnocrata e mercadológico do conhecimento, no qual o aluno é tratado como coisa, não como gente . O ensino bancário reproduz a lógica do dinheiro e seu poder concentrador e excludente.
As palavras-geradoras não pertencem a cartilhas, elas pertencem às falas populares que o poder dominante cala ou não deixa que sejam ouvidas.
A palavra-geradora me lembra as palavras geradas do lápis do poeta Manoel de Barros, que dizia: “Na ponta do meu lápis tem apenas nascimento”.
O contrário da palavra-geradora é qualquer uma que, mera palavra-destruidora, venha da boca de um fas(cis)ta ( escrevi assim para driblar os robôs do face, que andam censurando certas palavras críticas).
“A justiça social tem que vir antes da caridade.” (Paulo Freire)
“Aprendo com o povo sintaxes tortas.” ( Manoel de Barros)
(Postagem de Elton Luiz Leite de Souza em
20set2023 no Facebook)